sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

uma conversa honesta


Filha,

Venho recordar-te uma conversa que tivemos num final de tarde quente de agosto, já no final da gravidez, enquanto estávamos as duas de molho num banho delicioso a partilharmos morangos com chocolate branco.
Nunca tinha tido uma conversa tão honesta com uma pessoa e claro que te escolhi a ti, ainda dentro da minha barriga para deixar sair todos os pensamentos que me vinham à mente e ao coração depois de quase nove meses de gravidez.
Desde que engravidei que fui imaginado como serias, qual seria o teu aspecto físico, como seria a tua alma e qual seria o teu grande “objetivo” em vires ao mundo nesta casa, nesta família.
Na altura quis acreditar que vinhas unir uma família quase desfeita e quis que soubesses disso. Acreditava que vinhas com um sorriso de ouro, com uma calma imensa e com uma alegria de viver contagiante…quis creditar porque afinal de contas era o que estávamos a precisar.
Quis acreditar que vinhas dar ânimo à tua prima Daniela, que apesar de tão nova (seis anos) e já com tanta ansiedade e sofrimento dentro dela. Sabia que vinhas dar-lhe vida nas brincadeiras, tirar-lhe a vontade constante de estar mumificada à frente da TV ou do PC a ser consumida pelas coisas mais estúpidas e sem sentido que só incentivam a uma mente vazia e sem criatividade. Sabia que vinhas puxar por ela e fazê-la ser uma criança como eu acredito que devem ser.
Lá no fundo, sabia que irias unir dois irmãos que mal se falam e que nunca, em 28 anos se uniram e partilharam sentimentos e amor…acreditei que iriamos passar mais tempo juntos sem obrigações e com vontade de viver duas filhas, dois irmãos, duas famílias e uma vida com um pouco mais em comum.
Nunca duvidei, em momento algum, que trarias à tua avó, minha mãe, uma vontade de viver que desapareceu há muito, sim, isso eu tinha a certeza que irias dar-lhe as alegrias, os sorrisos e o carinho que ela sempre precisou e que nunca soube dar nem receber. Sei que terás da tua avó tudo isso e muito mais, porque só tu saberás levá-la a sentimentos que há muito ela desconhece. Vais dar-lhe vontade de se levantar todos os dias, de cuidar de ti e de te ver crescer debaixo da sua asa, voltando a acreditar que também ela é capaz de fazer coisas boas e de ter uma vida útil e importante.
Filha, eu até quis crer que farias do teu avô o homem que há muito deixou de ser, enquanto pai, marido, avô, amigo e homem de família. Sabia que ias puxar por ele, brincar com ele, chamar-lhe nome carinhosamente brincalhões e dar-lhe alguma vontade de voltar a esta família.
Pensei que trarias ao teu pai algo mais importante na vida para além do trabalho (e pouco mais), que lhe farias crescer uma responsabilidade de homem de família, de um marido e de “dono de casa” que lhe fazia um pouco de falta.
Também desse lado da família quis colocar-te o peso de os unir, que voltares a pôr um filho e uma mãe, que há mais de dois anos não sabia do bem-estar do seu filho, a falarem pelo menos cordialmente. De colocares um pouco de interesse pela família aos teus tios, que apesar de 16 e 23 anos são tão imaturos e sem noção da realidade familiar.

Eu sei filha, eu sei que coloquei em cima de ti um muro pesado de expectativas e de objetivos, mas sempre acreditei, assim que soube que te tinha dentro de mim, que serias o melhor ser de todos e que só poderias trazer coisas boas a um lar e que só tu poderias dar a esta família algo que nunca teve…vontade de viver, vontade de partilhar, vontade de sorrir e de amar.

Passados quatro meses é com angústia que, vejo em ti um esforço enorme de cumprires estes objetivos e de não defraudares as minhas expectativas mas que pouco é o retorno daquilo que sempre acreditei…mas por favor filha, não desistas já, não vamos desistir já. Vamos ser fortes e acreditar mais um pouco. Vamos acreditar que, acima de tudo e apesar de todos os obstáculos que nos aparecerem há algo que sempre acreditei e que desde o dia que nasceste se tem concretizado, que o nosso amor enquanto mãe e filha é indestrutível e cresce a uma velocidade assustadora. Nisso eu sempre acreditei, desde o dia 8 de dezembro de 2016, e continuo a acreditar hoje e sei, sinto no fundo do meu coração que irei acreditar sempre, aconteça o que acontecer.


Por isso e por tudo o resto, por seres o meu ânimo de viver, o meu sorriso diário e o sangue que corre nas minhas veias e que faz o meu coração bater cada vez mais, obrigada Inês!

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